sábado, 25 de dezembro de 2010

One Shot "Para Sempre"

Para Sempre

Era um dia de Inverno, e a tua presença era cada vez mais notória, porquê? - Pergunto a mim mesmo, vezes e vezes sem conta, porquê que não podemos ficar juntos, como sempre quisemos. A fama e o dinheiro, parecem tão pouco, perto desse sentimento, não há nada que pague o carinho, dedicação, admiração que sinto por ti…  
Olho pela janela do avião, as nuvens que pairam por baixo deste fazem-me lembrar de você, tudo me faz lembrar de você. Não consigo dormir. Olho pras estrelas, parecem tão longe, tão impossíveis de alcançar, um sentimento parecido aquele que sinto por você, o de perda e incapacidade de novo apodera-se de mim, penso quase por demência “será que estará a observar a mesma estrela que eu?”. Um suspiro longo me trás de volta há realidade, apenas queria ter algo que me fizesse estar mais próximo de você.
Cada vez que me recordo da primeira vez que vi você, de como te mostraste envergonhada, de como a nossa amizade surgiu naturalmente, e de como aquele primeiro beijo foi inesquecível para os dois. Sentir os seus lábios nos meus, o toque da sua pele suave na minha. Sentir que te entregavas por completo a mim, ao nosso amor.
Cada lembrança, só me faz ter mais vontade de deixar tudo para trás e ficar juntinho a você, mas sei que não o posso fazer, seria demasiado da minha parte para com a equipa.
Ontem quando marquei o golo da vitória lembrei-me de você. De como costumava vibrar com cada golo meu, até com cada golo da equipa. De como costumavas abraçar-me no final de cada jogo, de como sussurravas ao meu ouvido “Parabéns meu campeão!” ao fim de cada vitória, de quando me lançavas um sorriso e me consolavas com um beijo nas derrotas.
Você não sabia que trazia sempre comigo a nossa fotografia, daquele dia em que comemoramos 6 meses de namoro, e fomos jantar naquele local lindo, há luz de velas, apenas nós, aquela imensa explanada, numa noite quente de Verão, sobre um céu estrelado.
Estava simplesmente linda, o sorriso... O brilho do seu olhar. Trazia aquele vestido branco que tinha oferecido pra você, com uma simples rosa no punho.
Naquela noite, em que pertencemos um ao outro formando apenas um corpo, sei e posso dize-lo que te amei como nunca.
Volto de novo a realidade, tenho que me obrigar a mim próprio a descansar e dormir, os primeiros raios de Sol surgem pela clarabóia e ainda me esperam umas longas horas de voo.
Finalmente aterrámos e fui directo a minha casa, o mano ainda me perguntou se estava bem para passar a noite sozinho, mas eu só queria pensar e pensar.
No dia seguinte, depois do treino, perguntei ao Ruben se ele me queria acompanhar a praia, queria ter alguém para falar, partilhar esta dor.
Fiquei ali deitado, enquanto meu manz apanhava banhos de sol, por momentos apeteceu-me de novo largar tudo, e atravessar aquele imenso oceano só para estar perto de você.
Foi naquele momento que decidi que queria você pra mim, que não queria sofrer mais, que esse amor iria deixar de ser um amor impossível, eu vou e quero estar com você, lutarei por você, por esse sonho que me mantém vivo.
Dali a duas semanas você voltaria pra Portugal, aqueles dias pareciam intermináveis, mas só de pensar que estaria perto de você, após quase um ano e meio, deixavam-me com um sorriso estúpido nos lábios.
O meu coração quase saltava pela boca, de tantos nervos…”Meu Deus!”…pensei.
O Ruben levanta-se, tira seus Ray Ban, ele sabia a razão da minha ansiedade, de repente trouxe-me de novo a realidade.
- David, já passou um ano, desde que vocês acabaram, tens noção que ela pode ter seguido em frente com a vida dela não tens?
- Sim, mas falando verdade nem queria acreditar nisso, eu pensava que o que nos unia era mais forte, do que o tempo, e que de certa forma ela esperaria por mim.
Tirei os meus Carrera para poder apreciar melhor o por do sol e o Manz me olhava de lado. Eu sabia no fundo que ele tinha razão, mas minha vontade era tanta que me limitava a ignorar ele.
Chegou finalmente o dia, quando sai de minha casa olhei de novo sua foto, e pensei.
“Hoje meu amor, hoje estarei de novo com você, poderei te ter em meus braços.”
Cheguei perto de sua casa, estava saindo do carro, linda como sempre, levava o saco de compras, e vejo que um homem te abre a porta de casa, você lhe dá um beijo na face, e uma criança com um ano de idade surge gritando por você.
- Mamã, voltaste! – Dizia ela, enquanto corria e você a tomava nos seus braços.
Aquela imagem fez o meu mundo se despedaçar.
Não … Ela não, aquele homem, o moleque, o Ruben tinha razão!
Eu estava escondido, mas quando vi essa cena, chutei o lixo que estava ao meu lado e me voltei para ir pra casa.
Sem eu notar, ela repara em minha presença. Ela nem queria acreditar que era eu, acaba mesmo por jogar suas malas no chão, e chama por mim procurando resposta, eu nem reparei, as lágrimas corriam agora em minha face.
-David, és tu… David... Volta! – Ela ainda disse, mas eu nem escutei.
Corri pra casa, pelo caminho, ligo pra minha mãe que está lá longe no Brasil, ela era a única que tinha sempre uma palavra sabia para me aconselhar. Ela não atendia seu celular, deveria estar demasiado ocupada, telefonei então para o manz, ele deveria atender. Nem precisei disso, ele me esperava em frente a porta de minha casa, com um ar de preocupação em sua cara
- Então Mano, que se passa?
- Ela Ruben, ELA!
- David foste ter com a Sara, que se passou?
- Ela mano, eu nem acredito… Casou, e tem um filho… Eu vi Ruben... Eu vi...
- Calma mano, eu sei que não é fácil mas eu estou aqui… Tu não estás sozin…
O Ruben nem acabou a frase, eu abro a porta e vou directamente ao elevador, entro em casa e vou directamente ao bar, o Ruben ainda tenta me impedir mas ele sabia que eu precisava do meu espaço, por isso nada fez, simplesmente me deixou ir.
Entretanto, ela desconfia que era eu, e liga para o Ruben, ela sabia que ele estaria comigo, por isso ligou pra ele.
Durante isso, bebia e bebia até mais não, as lágrimas continuavam a percorrer minha face, sem parecer quererem terminar.
Comecei a pensar, angústia era o que eu sentia.
A vontade de desaparecer, era agora maior, por isso foi até a varanda da sala, para espairecer.
Entretanto, Sara a porta do prédio, pergunta por mim ao mano e sobe até ao 5º andar, onde era a minha casa.
- Abre David... Sou eu a Sara, preciso de falar contigo... Abre! – Ela batia na porta de minha casa.
A criança, que ela tomava em seus braços chorava, por causa do tom alto da sua voz.
Ruben, que vinha mesmo atrás dela, decide intervir.
- Sara, o que é que fazes aqui…
- Era o David não era? Ruben preciso de falar com ele, eu sei que era ele que me estava a ver ainda há pouco!
- Pois, mas acho que ele não quer falar contigo, não achas que o fizeste sofrer demasiado? Deixa-o…
- Tu não percebes, eu preciso mesmo falar com ele, ajuda-me por favor!
- Não Sara, eu não quero e nem vou faze-lo ele não merece sofrer mais por ti. Tu nem tens noção do que deixaste quando te foste embora, o David estava completamente de rastos, mal saia de casa, tinha que o arrastar para os treinos e para os jogos…
O Ruben olhava pra ela, e para o bebe que trazia nos seus braços. Sentia que aquele moleque era um tormento. Quando olha um pouco mais com atenção…
– Mas Sara ele…
Ambos são interrompidos pelo porteiro do prédio, que corria como louco pró pé deles.
Eu estava na varanda da minha sala, apoiado no corrimão, olhando pensativamente para a piscina lá bem no chão.
- Só te tenho a ti, só a ti…
Eu só dizia frases sem sentido, já não via nada, apenas olhava para baixo, pra piscina.
O porteiro, a Sara e o Ruben procuravam-me agora até que lá de baixo Sara me vê, a reacção que teve foi de pedir ao Ruben que segura-se no bebe, e correu até a borda da piscina.
O meu mano, que ficou com a criança nos seus braços sem perceber nada, vai junto dela mas a correr na direcção da piscina.
Ela lá de baixo começa a gritar, eu estava apenas alguns andares mais acima.
- David, sai dai!
- Olha quem é ela, a traiçoeira!
- David sai dai, precisamos de falar!
- Falar, você quer fala? Você por acaso pensou em mim quando andou lá enrolada com o outro?
- Espera David, deixa-me explicar…
- Explicar o quê? Me diz, vai! Vai inventar bobagem pra encher o meu saco de mentiras?
Eu gritava com ela, só sentia raiva a sair de mim.
- Não David, não percebes, não foi…
- Cala-te não quero ouvir mais você, desaparece!
Eu gritava, debruçado no corrimão, e, em um nada, com a raiva a apoderar-me o espírito, me debrucei ainda mais sobre o corrimão.
- David, tem cuidado, por favor, ainda cais… Sai daqui!
- Desaparece, sai você, não quero ver mais você, descola!
- David tem cuidado, Da...
Ela nem acabou de falar, os meus movimentos desencontrados, faziam me agora perder o equilíbrio, e cair em direcção ao nada.
- David!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sara gritava, mas já não valia de nada.
Ruben, que carregava o moleque e que estava próximo da piscina, onde o meu corpo tinha caído, deu a criança pra Sara e, num acto de aflição tentando me salvar, se atira pra piscina, pegando meu corpo que desfalecia.
Ele mergulhou sem pensar, nem mesmo em si próprio, e, buscando em sua força toda, me trás de volta a solo firme.
- David, aguenta-te mano...
Ele dizia aquelas palavras, enquanto me arrastava até a margem, onde a Sara o ajudou.
- David, por favor, volta! Desculpa. – ela abanava meu corpo que não esboçava nenhuma reacção.
Ruben, vê suas suspeitas confirmadas, ele tinha reparado, mas agora podia confirma, as parecenças desse bebe com o David eram visíveis a todos. Mas naquela hora de aflição, apenas procurava me salvar e não alguma explicação. Entretanto chegam os paramédicos, que se ocupam do meu corpo, que não voltava a reagir, até que ela começa a derramar suas lágrimas sobre mim.
- Não, não, EU NÃO O VOU PERDER! David - ela agarrava-me - Eu sei que tu me estás a ouvir, que bem lá no fundo tu ainda me ouves. Eu… - ela chorava descontroladamente - Nunca te trairia, NUNCA! Eu ainda te amo, sempre vou te amei, sempre te amarei, não me deixes por favor, por ti, por mim, pela tua família… pelo TEU filho - diz estas palavras e cai sobre o meu peito chorando como nunca.
Ruben estava atónito a assistir a toda essa cena, apenas segurava o pequeno Henrique que se movia em seu colo em minha direcção.
De repente, sem explicação nem aviso prévio, uma nova vida se apodera de mim e eu recomeço a respirar.
Sara olhava meus olhos, e chorava, ela apercebeu-se que eu a tinha ouvido, e que tinha voltado para não a deixar sozinha.
Quando voltei a acordar, já estava no Hospital. Ela estava junto de mim, com sua mão segurando a minha, e sua cabeça deitada delicadamente ao lado de meu corpo.
Eu tento me mexer ligeiramente, sem ela acordar, mas em vão, ela acorda.
- David, tu acordaste… - Ela me lançava o seu sorriso que nunca esquecerei.
Eu tentei esboçar também, mas minha cara me doía, ela riu-se de minha expressão.
- David, eu tenho tanta coisa para falar contigo. Aquele.. aquele homem não é meu marido, apenas um primo meu que me foi buscar ao aeroporto, e estava me a ajudar a cuidar a carregar o Henrique, ele… - respirou fundo - Ele é teu filho. Sei que o devia ter dito antes, mas eu estava nos Estados Unidos, e tu tinhas cá o futebol, e estavas mais concentrado que nunca no teu sonho. Agora sei que foi a coisa mais estúpida que poderia ter feito em toda a minha vida.
- Não fala bobagem – disse eu com dificuldades em respirar - Meu sonho é estar com você pra sempre.
Nisto entra o Ruben, com um sorriso na sua cara, com o pequeno Henrique na sua cara.
- Mano, tu estás bem?
Fiz sinal que sim, com a cabeça, ainda me custava falar, e vejo o bebé a querer sair do seu colo, querendo vir pra junto de mim.
- Papá! - dizia o moleque, lançando-se pra mim
- Mas, como é que…
- Eu sempre lhe mostrei fotos tuas, nunca  deixei esquecer-se de ti assim como eu nunca me esquecia de ti. Explicava-lhe que qualquer dia o iria ver, e que ele iria gostar muito dele. – ela corava á medida que confessava tudo isso.
- Mas tu sabias que podias não voltar – disse eu pra ela.
- Mas eu nunca te esqueci, cada vez que o pequeno Henrique sorria, cada vez que olhava para ele enquanto ele dormia, eras tu que eu via, era em ti que eu pensava. Queria tanto apanhar um avião e atirar-me de novo nos teus braços, não sabes a quantidade de vezes que tive prestes a fazer isso!
O bebé estava agora ao seu colo, com seus olhos postos em mim, e vi os meu olhos reflectidos nos seus, como espelhos, e tive a certeza, ele era a mais bela coisa que poderia ter acontecido do nosso amor.
Ele tocava-me na mão, e falava pra mãe dizem “É o papá?”
Eu de inicio até estranhei, mas depois só me apetecia ficar assim pra sempre, com ela, com a nossa família. Pedi ao Ruben que pegasse no pequeno Henrique em seu colo e fiz um esforço para me sentar na cama.
A Sara aproximou-se de mim e eu sussurrei ao seu ouvido.
- Fica comigo, por favor!
- Para sempre – ela respondeu e eu a beijei apaixonadamente nos seus lábios.


...
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